Poesias

A CRUCIFICAÇÃO

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Agora entendo, Senhor, 
a imensa e eterna solidão 
de quem está preso 
à árvore da desolação. 
Agora entendo 
o terror dos pregos 
fixando os teus pés 
de andarilho, 
o terror dos pregos   
lancinando a carne. 
Agora entendo o ultraje 
de cobrirem tua nudez 
com um manto escarlate, 
ornamento e cor 
privativos dos césares 
nas reuniões solenes. 
Agora entendo 
a humilhação, a dor 
dos espinhos ferindo 
tua fronte 
que não faz sete dias 
quiseram coroar. 
Agora entendo 
tua imensa angústia: 
os olhos contemplando os sonhos 
que tuas mãos dilaceradas 
procuraram semear. 
Só agora entendo 
teu imenso abandono: 
os olhos buscando os lugares 
onde a Palavra foi um dia ouvida, 
onde tua Palavra amiga 
foi consolo dos que choram, 
dos que têm sede de justiça. 
Ó Senhor, teus olhos de infinita doçura 
percorrem os caminhos 
que teus pés marcaram com sangue. 
Os olhos buscam a cidade na lonjura. 
A cidade, que não faz uma semana 
te recebeu em festas, 
hoje te considera indigno 
de que morras no seu chão. 
E fora dos muros 
da cidade 
todos te abandonaram, 
indiferentes ao teu coração 
latejante de paixão. 

talis andrade/ arte bizantina

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